domingo, 3 de outubro de 2010

Ciclovias da cidade que nao funciona!


Ciclistas desrespeitam sinalização e abusam da velocidade em ciclovias de SP
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Quem disse que trafegar na contramão, circular fora do horário permitido, fazer ultrapassagem proibida e ignorar placa de trânsito são exclusividade de condutor de automóvel? Adeptos da bicicleta andam cometendo infrações na ciclofaixa que interliga os parques Ibirapuera, das Bicicletas e do Povo, na zona sul de São Paulo.
A Folha percorreu ontem os 10 km (ida e volta) do pedaço criado para que ciclistas circulem aos domingos das 7h às 14h. Nas faixas de pedestre, de cor branca, ciclistas devem descer da bicicleta e atravessar empurrando o veículo, informa a placa. Pouca gente obedece.
As de cor vermelha deveriam ser exclusivas das bikes. Não são. O sentido obrigatório tampouco é seguido pelos ciclistas, apesar do apelo insistente de orientadores, espalhados pelos pontos-chave do trajeto.
Outro flagrante constante é o desrespeito de ciclistas com os próprios ciclistas. Apressadinhos são incapazes de obedecer o limite de 20 km/h. Na ausência de buzina, gritam para que os outros deem passagem.
Quando isso não acontece, invadem a área dos carros para ultrapassar. Com a manobra, jogam os cones de demarcação na pista vizinha, a dos automóveis, afetando o trânsito.
A Secretaria Municipal de Esportes diz que a ciclofaixa é para lazer, e não para competição. Daí a orientação para que usuários não abusem da velocidade, a fim de evitar acidentes.
Para Leandro Valverdes, 32, diretor da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo), "o perigo é o paulistano repetir o comportamento do trânsito na ciclofaixa".
Para complicar, pedestres, patinadores e skatistas querem dividir espaço com ciclistas. Só que a faixa é exclusiva das bicicletas. Desde o lançamento, em 30 de agosto de 2009, o número de frequentadores aumenta. Começou com 9.200 ciclistas. Atualmente, cerca de 12 mil paulistanos pedalam por lá.
Fred Chalub/Folha Imagem
Ciclistaz faz ultrapassagem por fora da área destinada à ciclofaixa que margeia o parque do Ibirapuera
Outras barbeiragens
"Estamos abaixo de 50% em termos de educação tanto por parte dos ciclistas como dos motoristas", reconhece Marcos Mazzaron, 46, diretor da FPC (Federação Paulista de Ciclista). "Falta educação", diz. Um dos responsáveis pela implantação da ciclofaixa, Mazzaron conta que ao menos 700 cones foram furtados do percurso.
Somente a iniciativa privada investe R$ 24 mil para ativar e desativar a ciclofaixa todos os domingos. Ao todo, 80 monitores atuam na sinalização e na pedalada entre os ciclistas.
Maria Lucia de Andrade, 45, desde janeiro comanda o fluxo de ciclistas na entrada do parque das Bicicletas. Não para um minuto. "À direita, por favor! Pai explica para o seu filho que o sinal está vermelho e que ele deve aguardar. Obrigada."
Ela não se mostra desanimada em ter que repetir as orientações inúmeras vezes. O que a deixa irritada é a postura dos motoristas. "Logo de manhã, tem condutor reclamando da faixa. É uma falta de respeito."
Ontem, 30 minutos depois de a ciclofaixa ser aberta, um carro invadiu a área exclusiva das bicicletas e arrastou cones. Ninguém saiu ferido. Mesma sorte não teve o gráfico Hamilton Conceição, 46, atropelado por um carro, que também avançou sobre o espaço reservado à turma do pedal, no último dia 28. O ciclista fraturou a clavícula.
A ampliação da largura da faixa é alternativa que poderia melhorar a convivência entre quem pedala e quem dirige, diz Valverdes, da Ciclocidade.
André Pasqualini, 35, diretor do Instituto CicloBR, diz que o erro crucial da prefeitura foi ter colocado as faixas de ciclistas do lado esquerdo. "Os pais não podem deixar as crianças pedalarem do lado direto porque elas estarão expostas ao tráfego de carros e a acidentes", conta. "Motoristas invadem a faixa dos ciclistas, principalmente em momentos de conversão."
A CET considera a ciclofaixa segura e não prevê mudanças nas faixas. Ninguém duvida que ela trouxe benefícios para a cidade, principalmente no convívio mais democrático entre carro e bike, além de reforçar o uso da bicicleta como meio de transporte. Mas também é inegável que algumas medidas precisam ser implementadas para garantir a segurança de todos.
Ciclista de domingo, a empresária Gisleynne Faria, 33, acha que a população precisa ser orientada corretamente sobre a ciclofaixa. "Fazem tanta propaganda política. Poderiam usar parte da verba para uma campanha educativa. Isso, sim, seria cidadania." Fica a dica.